É noite. Avanço pela floresta sombria. Há minha volta a
escuridão é pontuada por olhos brilhantes que me observam e seguem cada passo
que dou.
Não há um só raio de luar. O medo começa lentamente a apossar-se dos
meus sentidos que se tornam aguçados - atenta a cada som, a cada movimento. Num
impulso, retrocedo um pouco, viro-me e quero correr, voltar de onde vim, onde
havia calor, luz, conforto. Mas o caminho já não existe. É apenas um negrume
sem forma onde posso vislumbrar pontos brilhantes que se aproximam, esperando
apenas o momento certo.
Sigo em frente, apavorada. Os sentidos começam a errar e só
me apetece correr. O terror aumenta, transforma-se lentamente em pânico.
Sinto-me indefesa. Tão pequena, tão minúscula, que qualquer gesto, qualquer
palavra me poderá esmagar.
A palavra é proferida.
Uma tristeza tão grande e tão profunda devasta-me os
sentidos.
Um lamento perde-se no ar levando consigo o meu último
folego.
Então tudo torna-se maleável, eternamente lento e baço. O
tempo pára, tudo pára.
Já não sinto dor, já não sinto seja o que for.
A escuridão desce sobre mim e fico a pairar nas sombras esquecidas…
Vagueio pela floresta sombria, há minha volta só há
escuridão.
Ao longe um brilho avança, quente, reconfortante. No mesmo
instante sinto-me atraída para aquela luz viva, o desejo de a ter, de a sentir,
atrai também outras sombras.
Numa dança improvisada rodeamo-la, a luz começa a tremeluzir,
alternado entre o fulgor brilhante e a chispa amedrontada. O cerco aperta-se à
sua volta, rosno às outras sombras – Quero-a só para mim! Então salto, agarro-a
e rasgo o involucro que a contém – É minha! Só minha! – rejubilo, sinto o seu
calor, consumo-a…
Sinto-me viva, vibrante e no instante seguinte o seu brilho cessa,
esfuma-se e no seu lugar surge mais uma sombra.